Carlos Lacerda
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Filho do político, tribuno e escritor
Maurício de Lacerda (
1888–
1959) e de Olga Caminhoá Werneck (
1892–
1979), era neto paterno do ministro do
Supremo Tribunal Federal Sebastião Lacerda. Pela família materna, era bisneto do botânico
Joaquim Monteiro Caminhoá e descendente direto do
barão do Ribeirão e de
Inácio de Sousa Vernek, cuja família tinha importante influência política e econômica na região. Seus pais eram primos, descendentes em linhas afastadas de
Francisco Rodrigues Alves, o primeiro sesmeiro da cidade de
Vassouras. Por outro lado, embora tivesse sobrenome parecido como o do
barão de Pati do Alferes, o seu sobrenome Lacerda origina-se de seu bisavô, um pobre confeiteiro português que se estabeleceu em
Vassouras[1] e se casou com uma descendente de
Francisco Rodrigues Alves (estes serão os pais de seu avô paterno,
Sebastião Lacerda).
Nasceu no Rio de Janeiro, mas foi registrado como tendo nascido em
Vassouras, cidade onde seu avô residia e seu pai tinha grandes interesses políticos
[1]. Recebeu o nome de Carlos Frederico como homenagem aos pensadores políticos
Karl Marx e
Friedrich Engels.
Em março de
1934, leu o manifesto de lançamento oficial da
Aliança Nacional Libertadora (ANL) em uma solenidade no Rio de Janeiro à qual compareceram milhares de pessoas.
Capa do livro "O Quilombo de Manuel Congo" escrito por Carlos Lacerda usando o pseudônimo Marcos (ano 1935).
No ano seguinte, publicou com o pseudônimo de Marcos, um livreto contando a história do quilombo de
Manuel Congo. Apesar do seu viés de propaganda
comunista juvenil, o livreto resultou da primeira pesquisa histórica feita sobre um assunto que tinha sido quase esquecido.
Quando ocorreu o fracasso da
Intentona Comunista de 1935, teve que se esconder na velha chácara da família em Comércio (atual Sebastião Lacerda,
Vassouras) e ser protegido pela família influente.
Rompeu com o movimento
comunista em
1939 dizendo considerar que tal doutrina
"levaria a uma ditadura, pior do que as outras, porque muito mais organizada, e, portanto, muito mais difícil de derrubar". A partir de então, como político e escritor, consagrou-se como um dos maiores porta-vozes das ideologias
conservadora e
direitista no país, e grande adversário de
Getúlio Vargas, e dos movimentos políticos
Trabalhista e
Comunista.
[editar] O anti-Getúlio
Inimigo político de
Getúlio Vargas, Carlos Lacerda foi o grande coordenador da oposição à campanha de Getúlio à presidência em
1950, e durante todo o mandato constitucional do presidente, até agosto de
1954. Uniu-se a militares golpistas e aos partidos oposicionistas (principalmente a UDN) num esforço conjunto para derrubar o presidente Vargas, através de acusações que publicava em seu jornal,
Tribuna da Imprensa.
Lacerda foi vítima de atentado a bala na porta do prédio onde residia, em
5 de agosto de
1954, quando voltava de uma palestra no Colégio São José, no bairro da
Tijuca. No atentado morreu o major da
Aeronáutica Rubens Vaz, membro de um grupo de jovens oficiais que se dispuseram a acompanhá-lo e protegê-lo das ameaças que vinha sofrendo. Atingido de raspão em um dos pés, Lacerda foi socorrido e medicado em um hospital. Lá mesmo acusou os homens do
Palácio do Catete como mandantes do crime.
A pressão midiática e a comoção pública com a morte do major
Rubens Vaz obrigaram o governo a instaurar um IPM (Inquérito Policial Militar) para investigar o atentado. Rapidamente, os militares ligados a Lacerda fizeram do inquérito o palco perfeito para fomentar ainda mais a crise. Uma série de investigações levou à prisão dos autores do crime, que confessaram o envolvimento do chefe da guarda pessoal de Vargas,
Gregório Fortunato e do irmão do presidente,
Benjamim Vargas.
Com a conclusão do IPM (chamado na imprensa de "República do Galeão"), instaurado pelo Brigadeiro
Nero Moura, Ministro da Aeronáutica, o presidente do Inquérito, indicado pelo Ministro, Coronel
João Adil de Oliveira, informou, em audiência com o presidente Vargas, que havia a existência de indícios sólidos sobre a participação de membros da Guarda no atentado.
Dezenove dias depois, com o agravamento da crise política e o ultimato das Forças Armadas pela sua renúncia, Getúlio Vargas suicidou-se em
24 de agosto. O suicídio reverteu a opinião pública e provocou uma imensa onda de comoção e revolta. Isso obrigou Lacerda e parte de seu grupo a deixar o país. À época, milhares de revoltosos tomaram as ruas, empastelando jornais ligados à oposição e empresas americanas.
[editar] Lacerda e a posse de Juscelino
As manobras golpistas começaram já no período eleitoral, quando ocorreu o episódio da
Carta Brandi, uma notícia falsa plantada pelos opositores no jornal de Lacerda, envolvendo João Goulart num pretenso contrabando de armas da
Argentina para o
Brasil.
Depois de eleito Juscelino,
Carlos Luz, presidente interino à época, aliado aos militares e a Carlos Lacerda, tramaram um novo golpe, mas foram impedidos pelo General
Teixeira Lott, da ala legalista do Exército. Durante anos o episódio ficou conhecido como o
golpe de Lott, principalmente pela ação da mídia conservadora. Hoje se sabe que os golpistas eram os militares direitistas, associados a Lacerda e Carlos Luz.
Vencido na tentativa de golpe, Lacerda partiu para um exílio breve em
Cuba, que ainda era uma ditadura conservadora, nas mãos do general
Fulgêncio Batista, antes da revolução cubana.
Voltou em seguida para reassumir sua cadeira de deputado, e continuar a oposição a
Juscelino Kubitschek, atacando, entre outras coisas, a construção de
Brasília.
Juscelino não permitiu jamais o acesso de Carlos Lacerda à
Televisão. Juscelino confessou a Lacerda, no encontro de
Lisboa, em
1966, que se deixasse Lacerda falar na televisão, Lacerda o teria derrubado do governo.
[editar] O derruba-presidentes
Em
1961, fez um discurso atacando, pela televisão, o Presidente
Jânio Quadros, antigo aliado. Posteriori a renúncia deste ocorreu em
25 de agosto.
Com a transferência da capital para
Brasília, candidatou-se ao governo do recém-criado estado da
Guanabara. Apesar do grande favoritismo inicial, Lacerda foi eleito por pequena margem, tendo sido ajudado pela divisão de votos populares que ocorreu com a candidatura de
Tenório Cavalcanti ao mesmo cargo
[1].
O seu governo do antigo estado da
Guanabara destacou-se pela construção de grandes obras que mostraram suas habilidades de administrador e consolidaram a simpatia da classe-média. Seu Secretário de Obras foi o eminente
engenheiro civil e sanitarista
Enaldo Cravo Peixoto. Construiu a
estação de tratamento de água do
Guandu (até hoje a maior do país) e um sistema de distribuição que resolveram um centenário problema de abastecimento (a falta de água era crônica e inspirava marchinhas de carnaval como "Rio de Janeiro, /cidade que nos seduz, / de dia falta água, / de noite falta luz" - Sucesso de Vitor Simon e Fernando Martins, do
Carnaval de
1954). Construiu túneis importantes para o trânsito de veículos, como o Santa Bárbara e o Rebouças, ligando a Zona Norte à Zona Sul da Cidade do Rio de Janeiro. Terminou a construção e reurbanização do
aterro do Flamengo. Removeu favelas de bairros da zona sul e Maracanã, criando o parque da Catacumba, o campus da UEG (atual
UERJ), e instalando seus antigos habitantes em conjuntos habitacionais afastados como
Cidade de Deus e
Vila Kennedy. Construiu inúmeras escolas e manteve um alto padrão de qualidade dos hospitais públicos.
Durante seu governo, descobriu-se
[carece de fontes] que policiais assassinavam os mendigos que perambulavam pela cidade e jogavam seus corpos no rio da Guarda, afluente do rio Guandu. O governo de Carlos Lacerda foi acusado pela imprensa de oposição de ter dado instruções aos policiais para que realizassem estes assassinatos. Lacerda demitiu o Secretário de Segurança e o envolvimento dos escalões superiores do governo nestes fatos nunca foi provado.
Foi um dos líderes civis do
golpe militar de 1964, porém se voltou contra ele em
1966, com a prorrogação do mandato do presidente
Castelo Branco. Segundo ele, a prorrogação do mandato de Castelo Branco levaria à consolidação do governo revolucionário numa ditadura militar permanente no Brasil, o que realmente aconteceu. Muitos
[quem?] acreditam que a sua oposição à prorrogação devia-se ao fato de já se haver lançado como candidato a Presidente da República em
1965. Confiava no sucesso do governo que tinha realizado no estado da Guanabara para enfrentar o candidato de oposição
Juscelino Kubitscheck.
[editar] A desilusão com 1964 e a cassação
Morreu na madrugada 21 de maio de
1977, em uma clínica particular após ter contraído uma gripe comum. Sua morte repentina levantou a suposição de que Lacerda, e os dois ex-presidentes teriam sido assassinados pelo CIE (Centro de Informaçoes do Exército) da ditadura militar, pois todos eles faleceram em datas próximas.
Em
20 de maio de
1987, através do decreto federal nº 94.353, teve restabelecidas, post mortem, as condecorações nacionais que foram retiradas e reincluído nas ordens do mérito das quais fora excluído em 1968.